quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho - A Invasão Holandesa

Pelo Espirito de Humberto de Campos
Psicografia Francisco Cândido Xavier


A Invasão Holandesa

Se à raça negra eram impostas as mais dolorosas torturas, nos primórdios da organização do Brasil, não menores sacrifícios se exigiam dos indígenas, acostumados à amplitude da terra, propriedade deles. 

As “entradas”pelo sertão, com o fito de escravizar os selvagens indefesos, se realizavam, naquele tempo, em todos os recantos. 

Tabas prósperas eram incendiadas de surpresa, no silêncio da noite. São famosas e comovedoras as descrições que desses fatos guardam os documentos antigos. Somente de uma vez, uma caravana de portugueses capturou mais de sete mil homens válidos, mulheres, velhos e crianças. 

E quando os mamelucos guiadores não convenciam os naturais de que deviam acompanhá-los às cidades mais próximas, para que as caçadas humanas se verificassem com pleno êxito, as cenas de selvajaria nodoavam a floresta virgem, enchendo de pavor os caminhos atapetados de cadáveres e de sangue coagulado. Como represália a tantas crueldades, os Tamoios nunca se harmonizaram com os portugueses. Desde o princípio da ação destes, foram seus declarados inimigos.

No seio dessas lutas devastadoras, em que venciam, a maior parte das vezes, as criminosas astúcias dos colonos, eram os padres piedosos os que mais sofriam, experimentando a angústia de se verem desprezados pelos seus próprios companheiros da raça branca, nos sertões ínvios e hostis. 

A alma simples dos naturais se mostrava maleável aos seus ensinamentos. Aos seus apelos, aproximavam-se dos núcleos de civilização. Aldeavam-se para uma vida ordeira que os colonizadores destruíam com as suas taras infames e seculares.

Anchieta e quase todos os outros missionários das selvas brasileiras sustentaram demoradas lutas, defendendo os indígenas fraternos. A verdade, porém, é que, embora esfacelassem os púlpitos na pregação da piedade cristã, suas vozes se perdiam na imensidade do céu, sem que seus irmãos da terra as escutassem com a ideia generosa de lhes praticar os carinhosos ensinos. 

Os primeiros brancos que aportaram à América do Sul, na sua generalidade, não tinham em conta a existência da lei nas extensas florestas do Novo Mundo.

Os portugueses prosseguiam, incessantemente, na faina ingrata de “descer os índios”.

Regressando ao Além, os primeiros missionários da caravana luminosa de Ismael pedem a sua colaboração misericordiosa, para que semelhante situação se modifique. Mas, o grande apóstolo de Jesus explica:

— Irmãos, não podemos tolher a liberdade dos nossos semelhantes.

Não sou indiferente a esses movimentos hediondos, nos quais os índios, simples e bons, são capturados para os duros trabalhos do cativeiro. Esperemos no Senhor, cujo coração misericordioso e augusto agasalhará todos aqueles que se encontram famintos de justiça. Contudo, poderemos, com os nossos esforços, auxiliar os encarnados na compreensão das leis fraternas, avisando-lhes o coração de modo indireto, quanto aos seus divinos deveres. Infelizmente, não encontramos, na atualidade do planeta, outro povo que substitua os portugueses na grande obra de edificação da Pátria do Evangelho. 

Todas as demais nações, como o próprio Portugal, se encontram presas da cobiça, da inveja e da ambição. Os vícios de todas as identificam perfeitamente umas com as outras, e no povo lusitano temos de considerar a austera honradez aliada a grandes qualidades de valor e de sentimento, que o habilitam, conforme a vontade do Senhor, a povoar os vastos latifúndios que constituirão mais tarde o pouso abençoado da lição de Jesus. 

Colonizadores desalmados estão em todos os países dos tempos modernos, que não reconhecem outro direito a não ser o da força desumana e impiedosa. Recorrendo, pois, às possibilidades ao nosso alcance, buscaremos, na Europa, um príncipe liberal, trabalhador e justo, que não esteja subordinado à política romana, a fim de caracterizar a nossa ação indireta. Traremos a sua personalidade de administrador para a parte mais flagelada da nova pátria, a fim de que seus exemplos possam servir aos que se encontram na direção das atividades sociais e políticas da colônia e beneficiem,

e de maneira geral, a nação inteira. Ele virá na qualidade de invasor, porquanto não encontramos outros recursos para a adoção de providências dessa natureza; mas, a sua permanência no Brasil será curta e eventual, apenas durante os anos necessários a que suas lições sejam prodigalizadas aos administradores da nova terra. Preliminarmente, porém, devemos considerar que os seus companheiros não serão melhores que os portugueses, no sentido da educação espiritual. A época é de profundo atraso de quase todos os indivíduos e é para expelir essas trevas da consciência do mundo que nos teremos de sacrificar nas atmosferas próximas da Terra, trabalhando pela vitória do Senhor em todos os corações.

Os fatos se verificaram, consoante as afirmações do iluminado preposto de Jesus.

Em 1624, a pretexto de sua guerra com a Espanha, os holandeses tomavam de assalto a Bahia, sob o comando de Johan Van Dorth. Importa notar que as cenas dolorosas e lastimáveis, decorrentes da invasão, não foram organizadas pelas abnegadas falanges do mundo invisível. 

As causas profundas desses fatos residiam no estado evolutivo da época. Os morticínios nas praças incendiadas e destruídas se verificavam, todos os dias, entre inevitáveis atritos das raças chamadas a povoar aqueles recantos desconhecidos.

Em 1637, entrava em Pernambuco o general holandês João Maurício, Príncipe de Nassau. Inumeráveis benefícios e imensos frutos produziu a sua administração no Norte do Brasil, que foi sempre a zona mais sacrificada do país.

O Recife se ostenta diante da Europa, como uma das mais belas cidades da América do Sul. Olinda é reedificada. Uma assembleia de mecânicos, de pintores, de arquitetos e artistas acompanha o Príncipe de Nassau, enchendo a sua cidade de singulares esplendores. Mas, o espírito construtivo do administrador holandês não se cristaliza nas expressões materiais da sua cidade predileta. 

O amor e o respeito que vota à liberdade fazem-no venerado de todos os brasileiros e portugueses de Pernambuco, cujas terras, naquela época, desciam até a região do Paracatu, em Minas Gerais. Todos os escravos que procuram abrigo à sombra da sua bandeira de tolerância ele os declara livres para sempre, e os índios encontram, no seu coração, o apoio de um nobre e leal amigo. Maurício de Nassau estabelece a liberdade religiosa e administra Pernambuco, inaugurando aí a primeira liberal-democracia nas terras americanas, tais a justiça e a liberdade com que se houve em seu governo. 

Os Albuquerques e outros elementos em evidência no Norte muito aprenderam com ele para as suas atividades do porvir.

A realidade, todavia, é que a lição de Nassau fora preparada no plano invisível, para que os colonizadores da terra brasileira recebessem um novo clarão no seu caminho rotineiro e obscuro.

Em socorro da nossa afirmativa, podemos invocar o testemunho da própria história, porque, terminado o tempo necessário à sua administração no Brasil, o grande príncipe holandês regressava à pátria, por imposição dos Espíritos avarentos, que militavam, nessa época da Companhia das índias, na política holandesa, sem que encontrassem substituto para a sua obra na América. 

Apesar de suas frotas extraordinárias e poderosas, a Holanda retirou-se do Brasil sem a intervenção de Portugal, bastando, para isso, o concurso dos habitantes da colônia. Quando a questão ficou definitivamente resolvida na Corte de Haia, em 1661, os holandeses, embora a sua soberania marítima perdurasse até então, em troca dos seus imensos trabalhos no Norte do Brasil e dos milhões de florins aí abandonados, apenas receberam, a título de indenização, a importância de cinco milhões de cruzados.

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