segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho - D. João VI no Brasil

Pelo Espirito de Humberto de Campos
Psicografia Francisco Cândido Xavier


Enquanto as falanges espirituais de Henrique de Sagres se reuniam em Portugal, revigorando as forças lusitanas para a escola de energia, que foi a guerra peninsular, o exército de Ismael voltava-se para o Brasil, a fim de inspirar o primeiro soberano do Velho Mundo que pisava as terras americanas. 

A esses esclarecidos agrupamentos do mundo invisível, aliava-se agora a personalidade do Tiradentes, que se transformara em gênio inspirador de todos os brasileiros. Ismael reúne os seus colaboradores e fala assim aos devotados mensageiros: 

— Amigos, um novo período surgirá agora para as nossas atividades na terra do Evangelho. Ao sopro das inspirações divinas, reformar-se-á toda a vida política da pátria onde edificaremos, mais tarde, a obra de Jesus. Procuremos inspirar a quantos se conservam à frente dos interesses do povo, iluminando-lhes o caminho com as ideias generosas e fraternas da liberdade. Sobre os nossos esforços há de pairar a direção do Senhor, que se desvela amorosamente pelo cultivo da árvore sagrada dos ensinamentos, transplantada da Palestina para o coração do Brasil. 

Aquela caravana de abnegados espalha-se então, por todos os recantos da pátria, distribuindo com os seus esforços fraternais as sementes de uma vida nova. 

A 22 de janeiro de 1808, aporta na Bahia a maior parte das embarcações que constituíam a frota real. O povo baiano recebe o príncipe-regente e sua comitiva com as mais carinhosas demonstrações de amizade. Clarins e bandeiras anunciam, sob um sol quente e amigo, a presença da família real nas terras do Cruzeiro. A cidade do Salvador julga-se de novo nos seus grandes dias, contando com a honra de ser outra vez a capital da colônia; mas, os navios descem ao longo da costa para o Rio de Janeiro. 

Logo, porém, ao seu primeiro contato com o Brasil, sob o influxo das falanges do Infinito, o príncipe generoso sente-se tocado da mais alta simpatia para com a Pátria do Evangelho. 

Ainda na Bahia, graças às suas relações com o Conde de Aguiar, ministro de D. João VI, José da Silva Lisboa, mais tarde Visconde de Cairu, consegue do soberano a abertura de todos os portos da colônia ao comércio universal. E note-se que semelhante providência, a base primordial da autonomia brasileira, teve seus antecedentes, indiscutivelmente, na atuação das forças espirituais que presidiam aos movimentos iniciais da emancipação, porque, na convenção secreta de Londres, em 22 de outubro de 1807, um dos pontos essenciais que deveriam ser observados, em troca da proteção de Jorge III à Casa de Bragança, no sentido de sua fuga para a colônia distante, era o da abertura dos portos do Brasil à livre concorrência da Inglaterra, reservando-se tal direito somente aos interesses britânicos. O soberano e seus ministros conheciam essas estipulações, através de Lorde Strangford; mas, com o auxílio das influências salutares do plano invisível, reconsideraram a tempo o absurdo de semelhantes exigências e cuidaram de realizar as primeiras aspirações dos patriotas brasileiros. 

A maravilha dos céus americanos deslumbra os olhos de D. João, que se entusiasma com a beleza natural da paisagem magnífica. 

Acompanhado de numeroso séquito de fidalgos, onde se destacavam o Visconde de Anadia, elegante da época, inimigo implacável de todas as feições indígenas da colônia, o Marquês de Belas, o Marquês de Angeja, o Duque de Cadaval e toda uma comitiva enorme de vassalos e nobres, de guardas e criados, o soberano aportou ao Rio de Janeiro, num ambiente de geral alegria. 

Nos seus novos paços, sentia-se o rei confortado e satisfeito com a magnificência do panorama e com a fartura da terra. Apenas D. Carlota Joaquina, com a sua educação deficiente, a sua megalomania e apego aos prazeres requintados da época, não se conformava com a situação, protestando contra todos os elementos, demonstrando aridez de espírito e lamentável agressividade. 

As caravanas do infinito não descansaram junto das autoridades supremas da política administrativa. Todas as possibilidades foram aproveitadas pela sua operosidade infatigável. A 1.° de abril de 1808, levantava-se a proibição que incidia sobre as indústrias nacionais, que foram declaradas livres, o que facilitou a colaboração dos estrangeiros estabelecidos nas costas marítimas da Pátria do Cruzeiro, surgindo um novo período de trabalho, construtivo do país, prestes a celebrar suas núpcias com a liberdade. 

O Rio de Janeiro, sob a direção do bondoso príncipe que, debaixo das influências poderosas do Alto, adotara um regime muito mais liberal do que as formas de governo existentes em Lisboa, enche-se de obras notáveis. Grandes instituições se fundam na cidade da mais maravilhosa baía do mundo. Surgem a Escola de Medicina, o Real Teatro São João, o Banco do Brasil; organizam-se os primórdios da Escola de Belas-Artes, cria-se a Academia de Marinha, o Conselho Militar, a Biblioteca Real; desenha-se o Jardim Botânico, como novo encanto da cidade, e, sobretudo, inicia-se, com a Imprensa Régia, a vida do jornalismo na Terra de Santa Cruz. 

Entidades benevolentes e sábias, sob a direção de Ismael, espalham claridades novas em todos os Espíritos e, sob os seus generosos e imponderáveis impulsos, as grandes realizações do progresso brasileiro se avolumam por toda parte, nas mais elevadas demonstrações evolutivas. 

O príncipe, contudo, não soube manter-se constantemente dentro das linhas de sua autoridade. Com as suas liberalidades na América, criava-se em derredor da sua corte toda uma sociedade de parasitas e de inúteis. Os reineis abastados do Rio de Janeiro e das outras grandes cidades coloniais receberam títulos e condecorações de toda natureza. As cartas honoríficas eram expedidas quase que diariamente. Por toda parte, havia comendadores da Ordem do Cristo e cavaleiros de São Tiago dando lugar a um grande menosprezo pelas instituições. Os nobres da época eram os novos ricos do mundo moderno. Conquistados os títulos, sentiam-se no direito de viver colados ao orçamento da despesa, apodrecendo longe do trabalho. Só os gastos da despensa da corte, dos quais vivia a multidão dos criados, no Rio de Janeiro, ao tempo de D. João VI, se aproximavam da respeitável importância de mais de quinze mil contos de réis! O alojamento dos fidalgos e de suas famílias exigiu, por vezes a fio, as mais enérgicas providências da autoridade, no capítulo das expropriações. A chamada lei das aposentadorias obrigava todos os inquilinos e proprietários a cederem suas casas de residência aos favoritos e aos fâmulos reais. Bastava que qualquer fidalgote desejasse este ou aquele prédio, para que o Juiz Aposentador efetuasse a necessária intimação, a fim de que fosse imediatamente desocupado. Ao oficial de justiça, incumbido desse trabalho, bastava escrever na porta de entrada as letras “P. R.”, que se subentendiam por “Príncipe Regente”, inscrição que a malícia carioca traduzia como significando — “Ponha-se na rua”. 

Moreira de Azevedo conta em suas páginas que Agostinho Petra Bittencourt era um dos juízes aposentadores ao tempo de D. João VI, quando lhe apareceu um fidalgo da corte, exigindo pela segunda vez uma residência confortável, apesar de já se encontrar muito bem instalado. Decorridos alguns dias, o mesmo homem requer a mobília e, daí a algum tempo, solicita escravos. Recebendo a terceira solicitação, o juiz, indignado em face dos excessos da corte do Rio, exclama para a esposa, gritando para um dos apartamentos da casa: 

— Prepare-se, D. Joaquina, porque por pouco tempo poderemos estar juntos. 

E, indicando à mulher, que viera correndo atender ao chamado, o fidalgo que ali esperava a decisão, concluiu com ironia:  

— Este senhor já por duas vezes exigiu casa; depois pediu-me mobília e agora vem pedir criados. Dentro em breve, desejará também uma mulher e, como não tenho outra senão a senhora, serei forçado a entregá-la. 

Todavia, a despeito de todos os absurdos e de todos os dispêndios, que seriam de muito excedidos nos odiosos processos revolucionários, caso o país fosse obrigado a exigir pelas armas a sua emancipação, a corte de D. João VI ia prestar ao Brasil os mais inestimáveis serviços, no capítulo de sua autonomia e de sua liberdade, sem os abusos criminosos das lutas fratricidas. 

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